Governo brasileiro relaciona aumento da população brasileira até 2060 com a instalação de novas usinasO reinício das obras da Usina Nuclear Angra 3 foi autorizado na sexta-feira, 2 de outubro, depois de o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, ter assinado a primeira ordem de serviço do contrato da construção, durante evento realizado na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ). O governo brasileiro pretende construir 30 usinas nucleares em três décadas – uma a cada ano, no período que vai de 2030 a 2060.
Logo depois da assinatura, o documento foi guardado em uma espécie de “cápsula do tempo”, que pretende perpetuar a proposta tanto para os governos como para as gerações futuras. Para justificar a ideia de se construir uma usina nuclear por ano, o ministro Lobão citou a projeção que estima em 250 milhões de pessoas a quantidade de brasileiros em 2060. Na concepção dele, o aumento da população vai requerer o crescimento no consumo energético.
Em 2060, o consumo estimado de energia será de 4.380 quilowatts/hora (kwh) por habitante, o equivalente ao consumo atual de Portugal. A participação nuclear nessa capacidade instalada de geração seria de 24%, o que corresponde ao atual parque nuclear francês, que é de 60 mil MW (implantado em apenas 25 anos). Lobão salientou ainda que para atender às necessidades de demanda até lá, outras fontes alternativas, além da nuclear, serão utilizadas, tais como a biomassa, a eólica (dos ventos) e a solar.
Lobão: "Se não nos preparamos agora, pagaremos um preço muito alto no futuro"Ele enfatizou que o desafio para os governos futuros é ampliar o consumo de energia per capita. Segundo informação da Agência Brasil, embora o país seja o nono maior consumidor de energia elétrica do planeta, ele ocupa a 78ª posição no mundo em termos de consumo por habitante. “Grande parte dos nossos lares ou não consome ou usa menos energia elétrica do que necessitaria para uma melhor qualidade de vida”, argumentou Lobão.
Angra 3
Segundo o ministro, a Usina Nuclear Angra 3 vai produzir uma energia limpa, essencial para o futuro do país. Apesar de ainda não ter nenhuma definição quanto à localização das quatro usinas nucleares que serão construídas no Nordeste e no Centro-Sul do Brasil, Edison Lobão assegurou que já existe no país a conscientização das vantagens que esse tipo de energia representa, ao contrário do que ocorria no passado.
“Hoje, todos os estados pedem para que se localizem ali essas plantas novas, a exemplo do que ocorre na França, onde as regiões disputam as usinas nucleares, porque já se percebe que estas usinas não causam nenhum malefício ambiental”, afirmou.
As usinas do Nordeste serão as primeiras que integrarão as novas centrais nucleares brasileiras. Em longo prazo, a ideia é que cada central tenha seis usinas, informou o presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva. As duas plantas da região nordestina terão capacidade de geração entre mil a 1,2 mil megawatts (MW). Othon Luiz revelou que o custo de cada uma dessas usinas será de US$ 3 mil por quilowatt (kw) instalado, o que totaliza um valor em torno de US$ 3 bilhões.
Críticas
Mas a tendência de expansão da energia nuclear no país está longe de ser vista com bons olhos por grupos ambientalistas e especialistas no assunto. Em entrevista concedida à revista Época em junho de 2008, o físico José Goldemberg afirmou que a construção de novos reatores nucleares trata-se de “politicagem” e questionou os que defendem uma possível independência energética do Brasil por meio dessa alternativa.
Para o cientista, vencedor do prêmio Planeta Azul, considerado o Nobel do meio ambiente, o governo faria melhor se investisse mais nos segmentos hídricos e eólicos.
Já a ONG Greenpeace chegou a ingressar na justiça contra a construção de Angra 3 (atualmente em obras). No dia 5 de março, a nota divulgada pela ONG afirmava que os ativistas não iriam permitir que o governo “embromasse o povo brasileiro investindo bilhões de reais de dinheiro público em um projeto ultrapassado, que ameaça a sociedade e o meio ambiente”. Na ocasião, a coordenadora da campanha, Rebeca Lerer, salientou também que o projeto de instalação não trazia segurança energética.
A Usina Angra 3 tem previsão de conclusão para dezembro de 2014. Sua capacidade de geração será de 1.350 megawatts (MW), a mesma de Angra 2, enquanto Angra 1 produz 650 MW. As três usinas ficam no estado do Rio de Janeiro, sendo que as duas primeiras foram construídas a partir de um acordo da ditadura militar brasileira com o governo alemão, em 1975.